Mal tinha aberto os olhos e ele, aquele homem grande, de mãos maiores ainda, me arrancou do ninho onde minha família estava. Mal pude olhar para minha mãe e meus irmãos, pois ele me arremessou dentro de uma caixa e de lá me levou às pressas. O meu ninho ficava numa árvore grande e minha mãe colocava em nossos bicos sementes para nos alimentar. Meu irmão mais velho já conseguia voar e nós, os filhotes, morríamos de inveja dele, contando os dias para que minha mãe finalmente nos ensinasse a voar, mas isso tudo ficou no sonho, pois o homem grande me colocou em uma gaiola, com água e alpiste, de vez em quando ele fala comigo, mas não entendo o que diz, algo assim como: Que vida boa hein passarinho? Só come, bebe e dorme. Não sei o que quer dizer, mas acho que é ruim, pois já sou adulto e sei que daqui nunca sairei com vida. Ele diz que não canto e fica muito nervoso , mas como vou cantar dentro dessa cela gradeada, sem minha família por perto e sem voar, que era a minha maior aspiração, sem cantar, pois não aprendi e acho que vou passar o resto dos meus dias aqui, com esse homem grande e malvado, porque ele sabe, bem lá no fundo, que eu tenho aquilo que todos os homens almejam: liberdade, asas para alcançar lugares que os homens jamais alcançarão.
Tenho alguns colegas, cada um em sua cela, mas poucos conversam comigo, assim minha voz está sumindo, meu canto abafado, minha vida perdida!
Vamos defender a vida e a liberdade!
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